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09/12/2020 16:40 | NOTÍCIAS

Dores nas pernas durante o exercício? Pode ser claudicação intermitente

Existem muitos relatos de pessoas com dores específicas nas pernas que, muitas vezes, estão relacionadas a causas musculares ou ortopédicas, Entretanto, há dores relacionadas a causas circulatórias, chamada de claudicação intermitente (CI).

A claudicação intermitente é parecida com uma cãibra nos músculos da panturrilha, coxa ou glúteos que ocorre durante a caminhada e é aliviada no repouso. É causada por um fluxo sanguíneo inadequado para os músculos dos membros inferiores por uma obstrução arterial em algum ponto.

Esse tipo de dor surge quando as artérias que fornecem sangue às pernas estão estreitadas ou bloqueadas, podendo ser devido à aterosclerose —depósitos de gordura que bloqueiam o fluxo sanguíneo através das artérias— impedindo, assim, a chegada do oxigênio às fibras musculares e liberando toxinas na região, gerando desconfortos e dores.

É uma doença obstrutiva crônica degenerativa, estando associada à idade, ou ao quadro de diabetes, hipertensão, dislipidemia, além do estilo de vida —especialmente em fumantes. Além disso, está mais presente em homens e o fator da hereditariedade é determinante. Cerca de 20% dos adultos com idade superior a 50 anos tem este quadro já identificável, mesmo que ainda sem manifestação de dor.

O desconforto/dor pode afetar o quadril, panturrilha, coxa, glúteos, pés; podendo ser um sintoma precoce da doença arterial periférica (DAP), que é definida como uma condição que afeta artérias não cardíacas e não cranianas, principalmente devido à aterosclerose, levando ao acúmulo de placas e à obstrução parcial de artérias periféricas, reduzindo a perfusão para os tecidos irrigados por essas artérias.

As placas são uma combinação de substâncias no sangue, como gordura, colesterol e cálcio. Essas placas estreitam e danificam as artérias, diminuindo o fluxo sanguíneo e diminuindo o oxigênio que chega aos músculos.

Outras possíveis causas de claudicação intermitente (e outras condições que podem causar sintomas semelhantes, mas diferentes da claudicação intermitente) podem envolver seus músculos, ossos ou nervos.

Alguns exemplos são estenose espinhal lombar —que produz pressão sobre os nervos à medida que os espaços dentro de sua coluna se estreitam—, compressão da raiz nervosa —como de um disco lombar com hérnia—, neuropatia periférica associada a diabetes mellitus, artrite no quadril, joelho ou tornozelo, síndrome do compartimento de esforço crônico —quando a pressão aumenta nos músculos das pernas durante o exercício—, tensão muscular, cisto de Baker, mudanças na altura do salto do sapato, trombose venosa profunda, etc.

Estudos epidemiológicos determinaram a prevalência da DAP na população geral, que varia entre 4-10% em pessoas acima de 60 anos. No entanto, há um claro aumento na prevalência com o aumento da idade, com taxas tão altas quanto 20% acima dos 70 anos.

Dados sobre a prevalência de DAP na população geral brasileira são escassos. De acordo com o CDC, aDAP afeta cerca de 8,5 milhões de americanos, sendo que a maioria não foi diagnosticada e não apresenta sintomas.

Sintomas do problema

Os sintomas de claudicação intermitente variam de leve a grave. A dor pode incluir dormência, fraqueza, sensação de peso, fadiga. Sua dor pode ser forte o suficiente para limitar o quanto você caminha ou faz exercícios.

O diagnóstico deve ser feito por um médico por meio de histórico, anamnese, sinais e sintomas. Algumas questões são se você sente a dor no músculo e não no osso ou na articulação; a dor sempre ocorre depois que você anda uma certa distância; a dor vai embora quando você descansa por 10 minutos ou mais.

Se a sua dor não passar após o repouso, isso pode indicar uma causa de claudicação intermitente diferente de DAP. Por exemplo: se a dor da estenose espinhal é como uma fraqueza nas pernas, começa logo depois que você se levanta, pode ser aliviada inclinando-se para a frente. Já a dor da irritação em uma raiz nervosa começa na região lombar e se irradia pela perna e o descanso pode ou não trazer alívio; a dor da artrite do quadril está relacionada ao suporte de peso e à atividade; a dor de um cisto de Baker pode ter inchaço e sensibilidade atrás do joelho e é agravado pela atividade, mas costuma não ser aliviado pelo repouso.

Por isso é importante procurar o médico, para alinhar os sintomas com as causas específicas para realizar o tratamento de forma eficiente.

Para pessoas com claudicação intermitente, os principais objetivos do tratamento são:

  • prevenção secundária de doenças cardiovasculares por meio do gerenciamento de fatores de risco, por exemplo, uso de tabaco, dislipidemia, diabetes, hipertensão e sedentarismo;
  • melhorar o estado funcional, com opções de tratamento, incluindo treinamento físico, revascularização e terapia vasodilatadora.

Embora estudos tenham mostrado que exercícios não supervisionados geralmente são menos eficazes na melhoria do estado funcional do que um exercício supervisionado, este último ainda pode ser eficaz e deve ser recomendado se um exercício supervisionado não estiver disponível.

A evidência que apoia a eficácia do exercício para pessoas com CI remonta a 1966, quando um estudo relatou que 6 meses de exercícios de caminhada intervalada melhoraram as distâncias de caminhada máxima e sem dor dos pacientes.

Nos 50 anos seguintes, vários ensaios clínicos randomizados foram publicados apoiando a eficácia do exercício na melhoria do estado funcional nesta população.

Dessa forma, um estudo publicado neste ano por Tew et al resume as condutas para essa população com um infográfico que tem como objetivo encorajar os pacientes a adquirirem o hábito regular, destacando potenciais benefícios e fornecendo orientações claras e mensagens de segurança.

Aqui resumo algumas orientações do infográfico.

  • NICE (National Institute for Health and Care Excelente), recomenda exercícios supervisionados, sempre com orientação médica.

  • Dentre os benefícios do exercícios estão a redução de dor, redução da necessidade de procedimentos vasculares, melhora da saúde cardiovascular, melhora do humor, melhora do sono e da composição corporal.

  • Realize caminhadas de 30 a 60 minutos de forma intervalada (caminhada e descanso) de 3 a 5 vezes por semana. Ande em uma velocidade que consiga manter por 3 a 10 minutos. Se sentir dor, descanse até a dor diminuir e caminhe novamente, continue de forma moderada e faça pausas quando o desconforto começar a aparecer. Crie o hábito de caminhar.

  • Realize treinos de fortalecimento e equilíbrio pelo menos 2 vezes por semana para manter-se fortalecido e reduzir o risco de queda.

  • Não realize exercícios se não estiver sentindo-se bem ou com muita dor. Procure um médico para demais orientações.

  • Se houver liberação médica, aumente, gradualmente o tempo e velocidade da caminhada. Seja paciente, pois, normalmente, pode levar semanas de treinamento para que os sintomas sejam aliviados.

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Fonte: UOL
Texto: Paola Machado
Imagem ilustrativa: Bigstock
Edição: C.S. 

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